domingo, 17 de janeiro de 2016

Declínio da vida privada? Nossas sociabilidades têm mais um caminho perigoso


Eu não queria escrever sobre isso.... mas vi tanta coisa sobre os rumos dos relacionamentos (em todos os níveis) com o bloqueio do Whatsapp e o vídeo da “Fabíola” que resolvi refletir sobre a pergunta do título sociologicamente.
Estudar sociabilidades pela intenet é interessante porque você tem uma visão bem diferente do senso comum e pensa até que ponto a tecnologia muda nosso comportamento... eu creio que só potencializa aquilo que já temos de mais profundo (necessidade de manter distância ‘segura’ do outro).
Nesse momento é importante entender o que escreveu o grande sociólogo Richard Sennett. Em seu livro “O declínio do homem público: as tiranias da intimidade”, escrito em 1974, ele trata sobre as ‘tiranias da intimidade’ os perigos de uma confusão entre vida pública e vida privada. Isso não é novo. Já no século XVIII, em particular, se iniciam essas transformações onde os assuntos íntimos são levados a público. O declínio da vida pública está relacionado a uma obsessão das pessoas em detrimento das relações sociais mais impessoais, ou seja, há uma importância em demasia com as emoções particulares.
Esse novo tipo de sociedade acaba encorajando o crescimento do narcisismo, por exemplo,  onde se anula o senso de contato social fora dos limites do ‘eu’ em público. Sennett trata a vida pública como um teatro onde é necessário expressividade nas ações. Assim diz o autor, “No teatro, há uma correlação entre a crença na persona do ator e a crença em convenções. A peça, a representação e o desempenho exigem crença nas convenções para serem expressivos. A própria convenção é um instrumento da vida pública. Mas, numa época na qual as relações íntimas determinam aquilo que será crível, convenções, artifícios e regras surgem apenas para impedir que uma pessoa se revele a outra; são obstáculos à expressão íntima. À medida que o desequilíbrio entre vida pública e vida íntima foi aumentado, as pessoas tornaram-se menos expressivas”
A perda do vigor da vida pública e intensificação das práticas sociais mais íntimas têm um efeito profundo na capacidade da sociedade de produzir símbolos que não são rotineiramente atrelados ao ‘eu’. Portanto, na sociedade intimista os atores são mais importantes do que as ações, ou seja, o que é mais relevante não diz respeito ao que a pessoa fez, mas, como se sente a respeito do feito. Ele ainda observa uma mudança na relação com a realidade, pois essa realidade só interessa quando, de alguma forma, prenuncia espelhar necessidades íntimas.

Então devemos culpar a internet? Não.... longe disso. Ela só potencializou àquela distância segura que é nata da nossa (des) humanidade.

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