sexta-feira, 13 de abril de 2012

A LINGUAGEM RADIOFÔNICA E O JORNALISMO

Todos os meios de comunicação de massa possuem características especificas adaptadas às necessidades de eficiência do processo comunicativo. O rádio, por sua vez, se utiliza da oralidade para a transmissão da mensagem e, para tanto, possui especificidades que são fundamentais para a composição da mensagem.
É necessária, entretanto, a descrição de algumas características do rádio como meio informativo para entender como a sua linguagem se estrutura. Como foi mencionado no capítulo anterior, o rádio tem como uma das suas principais características a intimidade e a partir dela é possível perceber que a sua comunicação deve ser direcionada para cada indivíduo. Mcleish (2001) destaca que o rádio é muito pessoal e que tem uma ligação muito direta com o ouvinte, portanto, a simplicidade e flexibilidade são elementos fundamentais da comunicação radiofônica sem perder, é claro, os altos padrões de qualidade na produção.
A instantaneidade na transmissão de informações é outro fator que permite ao rádio ser um meio objetivo cuja efemeridade é uma característica da mensagem,

A natureza transitória do rádio também significa que o ouvinte deve não só ouvir o programa na hora da transmissão, mas também entendê-lo. O impacto e a inteligibilidade da palavra falada devem ocorrer no momento em que é ouvida – raramente há uma segunda chance. O produtor deve, portanto, esforçar-se pelo máximo de lógica e ordem na apresentação de suas idéias e pelo uso de uma linguagem de fácil entendimento (MCLEISH, 2001, p. 18).

Meditsch (1999) analisa a linguagem radiofônica como algo que vai muito além da oralidade e se revela como o aprimoramento da linguagem escrita diante de uma nova tecnologia, que possibilita um processo de significação complexo onde se contempla a palavra, a música, os ruídos e efeitos sonoros.
O discurso do rádio informativo, por exemplo, introduziu uma série de novidades tanto na linguagem do rádio como na linguagem jornalística porque houve a necessidade de adaptação do jornalismo escrito à forma sonora invisível. A palavra falada agregou novos elementos análogos à linguagem, dificultado a utilização de técnicas desenvolvidas a partir do antigo suporte (MEDITSCH, 1999, p. 142).

O som radiofônico não é uma cópia da realidade, mas sim o resultado de uma escritura. A significação informativa nasce da organização, combinação, mescla, filtragem, montagem, etc. que se faça dos componentes sonoros da informação. A informação lida de um teletipo que chega à emissora se associa na percepção, timbre, intensidade e duração da voz do locutor. A rádio envolve a informação em outros elementos de conotação inseparáveis (HERREROS, 1983, p. 78 apud MEDITSCH, 1999, p. 135)


Para Silva (1999, p. 71) a linguagem radiofônica é o resultado do entrelaçamento simultâneo entre signos sonoros, portanto, a palavra escrita, músicas, efeitos sonoros, silêncio e ruídos são incorporados em uma sintaxe singular do próprio rádio, adquirindo nova especificidade. A representação de uma idéia no rádio parte da potencialidade e do caráter expressivo do som. Tais potencialidades são representadas pelo ritmo, intensidade, timbre e o intervalo das pausas que se materializam em uma fala marcadamente musical (SILVA, 1999, p. 71).
A partir desse processo, a ‘imagem sonora’ surge na mente dos ouvintes como resultado do processo perceptivo entre a representação sensorial apreendida pela audição e as impressões pessoais. Nesse contexto, a música é um sustentáculo da palavra na mensagem radiofônica com diferentes funções.
Por exemplo, nos programas de radiojornalismo a música é geralmente utilizada em uma função fática, ou seja, são utilizados trechos de músicas como signo de pontuação. Um ritmo musical repetitivo pode trazer a conotação simbólica de dinamismo, novidade, profissionalismo e credibilidade. Nos radiodramas a música é explorada com maior intensidade assumindo um papel significativo de criação e expressividade. Já no spot publicitário, a música é empregada para estabelecer uma identificação entre o produto e o seu público-alvo. (SILVA, 1999, p. 79 e 80).
Medisch (1999) alerta sobre a diferença entre a linguagem radiofônica e a linguagem fonográfica. Para ele,
Diferente do discurso fonográfico, o discurso do rádio só se efetiva em tempo real. O funcionamento da dimensão temporal na situação comunicativa criada pelo rádio escapa normalmente às definições de sua linguagem, e é apenas parcialmente alcançada na descrição da estrutura de seu discurso. No radiojornalismo, cruzam-se as variáveis temporais inerentes à linguagem auditiva invisual, ao modo eletrônico de enunciação e também ao gênero jornalístico. A delimitação da especificidade do discurso do rádio informativo passa necessariamente pelo desvendamento deste sistema temporal complexo (1999, p. 142)

O rádio sempre transmite no presente individual do ouvinte e do meio social que está inserido, ou seja, num contexto temporal compartilhado entre emissor e receptor (BAUMWORCEL, 2005, p.340).

Bibliografia:

BAUMWORCEL, Ana. Armand Balsebre e a teoria expressiva do rádio. In: MEDITSCH, Eduardo (org.). Teorias do Rádio: textos e contextos. Volume I. Florianópolis: Insular, 2005. p. 336-346.

HAUSSEM, Doris Fagundes. Bachelard e o rádio: o direito de sonhar. In: MEDITSCH, 2005.Eduardo (org.). Teorias do Rádio: textos e contextos. Volume I. Florianópolis: Insular, 2005. p. 135-142.

MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação. Coimbra: Minerva, 1999.

SILVA, Júlia Lúcia de Oliveira Albano da. Rádio: oralidade mediatizada. O spot e os elementos da linguagem radiofônica. São Paulo: Annablume, 1999