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Amore sulla Bilancia (Amor Sapientiae): tarsia lignea del coro della Basilica di Santa Maria Maggiore in Bergamo |
Uma
das maiores preciosidades que os gregos deixaram para a humanidade temos, sem
dúvida, a sua mitologia. Milhares de anos depois, seus mitos são sempre
revisitados, reinterpretados e atualizados. Narciso e Eros são frequentemente
evocados para explicar fenômenos que vão da psicologia a comportamentos da
sociedade de consumo.
São
dois referenciais de beleza e amor, muitas vezes destrutivos. Mas em Eros há
algo que envolve mistérios que serviram de base para o desenvolvimento social
do erotismo. Estou lendo o filósofo sul coreano Byung-Chul Han, que vem
chamando a atenção dos estudiosos da cultura contemporânea para o que ele chama
de “a agonia de Eros”.
Em
pleno início do século XXI vivemos a sociedade dos excessos, da exposição sem
mistério, do apelo escancarado que não dá espaço para a imaginação. Tudo se
transforma em objeto de consumo. O narcisismo, por exemplo, não é amor próprio.
O narcisista não pode fixar claramente seus limites, tudo tem que girar em
torno do Eu.
Acontece que o sujeito narcisista-depressivo
está esgotado e fatigado em si mesmo. Como isso é possível? Byung-Chul Han diz
que o corpo, com seu valor de exposição, equivale a uma mercadoria. Não há
nenhuma ‘personalidade’ sexual. Se o outro se percebe como um objeto sexual, se
desfaz aquela ‘distância original’ que impede que o outro se coisifique como um
objeto.
Pelos
meios de comunicação digitais, tentamos destruir as distâncias frente ao outro.
Onde tudo é possível... não há amor como ferida e paixão. O amor e a
sexualidade têm um preço. Suprime-se um desejo dirigido ao ausente. Aí onde
Eros começa a agonizar.
A
ética de Eros certamente não contempla os abismos de um erotismo que se
manifesta como excesso e loucura, mas chama a atenção com insistência para a
negação do outro, que está em vias de desaparecer em uma sociedade que se
mostra cada vez mais exibicionista.
Byung-Chul
Han fala de um amor domesticado que serve como fórmula para o consumo, como um
produto sem atrevimento, sem excessos. Não há transcendência e nem
transgressão. Somos sujeitos incapazes de concluir a vida. As imagens pornôs,
por exemplo, mostram uma mera vida exposta. O pornô é a negação de Eros.
Aniquila a sexualidade em si mesma. O obsceno no pornô não consiste no excesso
de sexo, já que ali não há sexo. A sexualidade não está armazenada nessa ‘razão
pura’. Para o filósofo, “a transformação do mundo em pornô se realiza com a sua
profanação”.
Essa
profanação se materializa com a desritualização e dessacralização. A ‘cara’
pornográfica não expressa nada, não há expressividade e mistério. A imaginação
de internet parte de uma acumulação de atributos, mais do que uma visão global
do objeto e, nesta configuração específica, as pessoas dispõem de menos dados,
parecem menos capazes de idealizar. Sua imaginação esta determinada pelo consumo.
Os
novos meios de comunicação não dão precisamente a fantasia. Mas, uma grande
quantidade de informações, sobretudo visuais.
A hipervisibilidade não é vantajosa para a imaginação. Assim, o pornô,
que de certo modo leva ao máximo a informação visual, destrói a fantasia
erótica.
Platão
disse que Eros se dirige a alma e tem poder sobre todas as suas partes: desejo (epithymia), valentia (thymos) e razão (logos). Cada parte da alma tem sua própria experiência do prazer e
interpreta o belo de forma própria em cada caso. Essas três características agem
articuladas. Na sociedade do consumo essa balança desequilibra pelas práticas
de exposição e narcísicas. Vemos o fim da felicidade amorosa com uma prova de
que o tempo pode abrigar a eternidade.
Eros
agoniza em praça pública!!
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