quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nosso amigo cheio de onda!

Leiam esse texto MARAVILHOSO sobre rádio do jornalista e professor Mica Guimarães, da Universidade Estadual da Paraíba.

Nosso amigo cheio de onda!

Criar imagens através do som, eis o milagre do rádio. O rádio é o malandro das comunicações. A TV é empavonada, precisa de maquiagem colorida, de frescurinhas mil. É demorada, enjoada, cheia de artifícios que, muitas vezes, dão uma idéia bem diferente da realidade.
Já o jornal impresso tem manhas aristocráticas, não se sente bem quando tem que se rebaixar à linguagem do povo. É como se o povo não fosse o objetivo principal do seu trabalho. Não raro, o texto impresso se assemelha a uma charada; é necessário que o leitor faça um exercício mental extraordinário para decodificar a mensagem.
Como agravante, infelizmente, vivemos numa terra de gente pouco afeita à leitura. Assim, a mídia impressa se restringe a alguma centenas de privilegiados. E onde andará o papel social da imprensa?

O rádio é ágil, tem ginga. Faz do conduto auditivo passarela, espécie de avenida do samba, e sai, por aí, fazendo evoluções, sapateando por sobre tímpanos, bigornas e martelos. O povo rasga a erudição e passeia de mãos dadas com as ondas do rádio. O rádio é cheio de onda, por isso se deita tranqüilo nas praias da comunicação, margeando com simplicidade um mar de informações. É o verdadeiro banho.

Comunicação é imediatismo. Quanto mais rápido informar, mais a comunicação se estabelece com perfeição. Comunicar não é uma questão de acabamento irretocável. É, antes, a informação em 3x4, sem enfeites escamoteadores. Notícia mutilada é como pôster: atraente, mas inexpressivo. Não há omissão quando a palavra é fácil, solta, de assimilação instantânea. O rádio não é fixo, como se sua instalação em determinado prédio fosse à razão de sua própria existência.

Não. O rádio tem milhares de endereços. Um deles é o ouvido atento de uma audiência ávida por informação. Lá, naqueles ouvidos antenados, nasce diariamente uma cadeia renovadora de notícia, de conscientização, de debate e de, sobretudo, respeito à cidadania. Rádio que não se pauta assim em seu mister, não é rádio ainda.
É teia perniciosa de fuxicos, encrencas, desrespeito total ao cidadão de bem, patrocinados por aranhas do oportunismo, solitárias de discursos malfadados e anacrônicos. Não, não, não. Embora o rádio desça às massas excluídas, para pô-las no contexto social, o faz para elevá-las, nunca para denegri-las ou tripudiar sobre sua nefasta condição.

O rádio é como um conselho de amigo fiel. Mão sobre o ombro, olhar mirando um horizonte imaginário, confiança total no que se escuta. Não há que se trair esta relação. Rádio é o som vencendo a solidão. É o fim da surdez coletiva.

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