domingo, 4 de outubro de 2015

A balada do tempo

A persistência da memória - Salvador Dalí

Entre uma garrafa de whisky e outro casamento, o meu amado poetinha Vinícius de Moraes disse que “com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia”. Isso ratifica que nem na vida, nem na arte fugimos das lições do tempo. É interessante que na filosofia o tempo é questionado desde os gregos: Platão, Aristóteles, os pensadores estóicos…. todos procuravam um sentido para esse ordenador da vida, criando questionamentos metafísicos e racionais sobre sua existência.

Caminhando na história encontramos Kant (1724-1804) que vê o tempo, apesar de ser essencial como parte da nossa experiência, destituído de realidade: "tempo não é algo objetivo. Não é uma substância, nem um acidente, nem uma relação, mas uma condição subjetiva, necessariamente devida à natureza da mente humana”.
O tempo é também uma grandeza física complexa. Isaac Newton disse que a passagem do tempo era absoluta, sem diferenciação para dois observadores em referenciais diferentes. Em 1905, Albert Einstein causa alvoroço ao questionar a existência de um referencial absoluto para a medida do tempo, tornando-o relativo ao observador.

No meio desse furacão das relações mediadas pela internet, o sociólogo Manuel Castells, traz na sua teoria o 'tempo intemporal', ou seja, as sociedades contemporâneas ainda estão em grande parte dominadas pelo conceito do tempo cronológico, mas esse tempo linear, irreversível, mensurável e previsível está sendo fragmentado na sociedade em rede. É possível 'fragmentar' o tempo, relativizar, dar outro sentido?

Enquanto teorizam, interrogam, representam - com todas as subjetividades que lhe são próprias – o tempo nos mantém prisioneiros da sua essência. Até porque nem na natureza, nem na vida temos garantias de dias claros e noites suaves para seguir navegando. 

Nenhum comentário: